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Isolamento social e família com filhos: implicações e possíveis soluções

Isolamento social e família com filhos: implicações e possíveis soluções

 

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No atual contexto de isolamento social, pais e filhos se viram em um novo ambiente, tendo que lidar com novas situações.

Apesar de os membros da família continuarem os mesmos, a dinâmica familiar mudou, a casa tornou-se palco substituto de trabalho, estudo e interações sociais.

Em todas essas esferas era sabido que seria possível se adaptar, pois muitas vezes as ferramentas digitais eram utilizadas de modo facultativo. Mas a nova regra veio sem dar tempo para que as famílias se organizassem estrutural e emocionalmente para o “novo normal”.

Além de viver nessa nova estrutura sem o devido preparo, o medo do coronavírus e as dúvidas que o acompanham vêm aliados para estabelecer um ambiente propício à manifestação de angústia para toda a família, principalmente para aquelas em que os pais precisam continuar trabalhando presencialmente.

Quais as implicações?

Esse ambiente também é favorável para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade e de depressão, pois é repleto de incertezas quanto ao futuro, se haverá vacina para todos, se haverá volta ao “normal”, se poderemos rever as pessoas queridas, se haverá perda de emprego, se as crianças vão realmente aprender no ensino remoto, entre outras. Também aparecem o medo da morte, e, muitas vezes o luto.

Do confinamento muitos conflitos também podem surgir, pois a família não estava acostumada a interagir por tanto tempo. Pais estressados tendo que acumular funções de trabalho, trabalho doméstico, acompanhar os estudos dos filhos entre outras coisas e sem poder ver seus amigos. Filhos se esforçando para acompanhar as aulas online, que muitas vezes apresentam problemas de transmissão, ou há concorrência de estímulos dentro de casa, como irmãos falando/brincando e animais de estimação, entre outros fatores que podem gerar desmotivação do estudante, não conseguindo ver a atividade como reforçadora. A falta de opções para interagir com outras pessoas e se movimentar ao ar livre também restringem a liberação de energia das crianças, o que pode contribuir para problemas emocionais e de comportamento dentro de casa.

Afetou-se o atendimento às necessidades de todos, mas a criança e o adolescente, que ainda estão em pleno desenvolvimento são os mais prejudicados. A criança necessita brincar, interagir com outras pessoas, aprender emoções, empatia, sociabilidade, aprender por modelos diversos. Muitas ferramentas foram desenvolvidas para tentar mitigar essas perdas. No entanto, como dito anteriormente, não houve preparação para usá-las e não tivemos tempo para tal.

Portanto, infelizmente, por mais que a tecnologia tenha se adaptado, as crianças ainda sofrem as consequências de terem suas necessidades atendidas parcialmente.

O adolescente necessita vivenciar novas experiências para desenvolver suas habilidades sociais e afetivas, achar seus pares, se identificar com grupos. Tudo isso é adaptável ao online, mas não podemos nos esquecer que muitos jovens já possuíam dificuldades para interagir, e esse novo formato pode ser bom ou ruim, dependendo de como ele pode ser usado: como ferramenta de aproximação ou como “muro” para se esconder. É fácil achar alunos que não ligam a câmera nas aulas, mesmo que estejam atentos. A fuga do social também pode ser sintoma de transtornos de ansiedade.

Ao mesmo tempo, há conceitos que eram dados como apropriados, e neste novo contexto de isolamento social precisam ser revistos. É o caso do tempo do uso de telas pelas crianças e adolescentes, que seria de no máximo entre 2 e 3 horas por dia. Só com as aulas online, da escola e extras, já ultrapassa em muito esse limite. Em um cenário onde há limitação nas opções de interação, os jogos online, além de diversão, também são meio de socializar com os amigos. E para pais, que claramente não estão dando conta [e tudo bem!], deixarem as crianças um pouco com o celular para terminar o almoço, talvez seja essencial. Mas isso não significa que não deva haver regras e limites para o uso de telas!

Aí vem o papel dos pais, que mesmo que também estejam ansiosos, angustiados e atarefados, devem prestar atenção a como os filhos estão reagindo às novas condições de vida. Observar, tentar compreender o que os filhos estão querendo comunicar. Ouvir com empatia, sem julgamentos e com tempo de qualidade. Se não der para ouvir naquele momento, por exemplo se estiver trabalhando, fale que depois conversarão e realmente retome o assunto mais tarde. E observar se o uso excessivo de telas não está sendo usado como fuga de conversas em família.

 

Consequências

O pós-lockdown, já iniciado em alguns países, nos dá uma ideia do que podemos esperar quanto ao desenvolvimento e saúde mental das crianças e adolescentes que vivenciaram o isolamento social, onde a demanda por serviços de saúde mental infanto-juvenil aumentou consideravelmente (Fergert e cols, 2021). Inclusive a União Europeia já tem um plano de ação das medidas a serem adotadas, pois não se deve esperar uma melhora geral na saúde mental quando a pandemia passar e o isolamento social cessar. Essas famílias foram afetadas por desemprego, mortes, divórcios, violência e todo contexto que já falamos.

O fim da pandemia não apagará o que foi vivido, inclusive as perdas referentes aos déficits de aprendizagem gerados pelas aulas online e toda a sua falta de estrutura, não conseguindo ser abrangente sem todo o suporte tecnológico e social necessário para o aprendizado. O senso de comunidade, a afetividade e atenção dispensada por professores e colegas também não foram capazes de acompanhar as aulas online. E, enquanto alunos, crianças e adolescentes também podem ter seu emocional abalado, prejudicando sua autoconfiança e autoestima, abrindo espaço para falta de motivação. E a sensação de “não dar conta” também os afeta, vendo a montanha de tarefas e trabalhos para entregar, e às vezes sem ter conseguido tirar as dúvidas com o professor, configurando mais um cenário onde a ansiedade também pode aparecer.

A aprendizagem está relacionada a fatores biológicos, psicológicos, sociais, cognitivos e emocionais. Mais especificamente, a afetividade influencia a memória, essencial para aquisição de novos conhecimentos. Nas áreas límbicas do cérebro estão funções relacionadas a emoções, aprendizagem e memória. Atente que tendemos a lembrar mais de fatos relevantes em nossa vida, como conquistas, amizades, momentos felizes e tristes também.

A comunicação não-verbal também fica prejudicada no online, onde formas de escrever podem não passar o real sentido das palavras, causando até mal-entendidos. Portanto, um ambiente, físico ou virtual, onde professores e alunos possam se relacionar de forma mais próxima e agradável, criando vínculos de afeto, confiança e disciplina será um ambiente capaz de gerar maior motivação, participação, autonomia e efetividade no processo de aprendizagem. Não parece impossível que o modelo com maior afetividade seja aplicável ao ensino virtual, mas como já disse, tudo é novo e demanda tempo e suporte para adaptação.

Seguem algumas dicas para passar por esse período de isolamento social de maneira mais amena e pensando na preservação do desenvolvimento de crianças e adolescentes. Na verdade, elas são válidas para qualquer período, mas a importância delas fica mais evidente quando a família precisa ficar mais tempo junta.

Dicas

  • Estabelecer uma rotina. Isso não quer dizer ter horários rígidos, mas sim uma ordem para estabelecer a segurança que a criança precisa. Importante lembrar que previsibilidade ajuda as crianças e adolescentes a lidarem melhor com a ansiedade.

  • Criar “combinados” com os filhos, dos quais eles realmente participem de sua elaboração. Ex: “Se você conseguir terminar todas as suas tarefas a tempo, poderá ter mais 5min de jogo liberado, o que acha?”. A ideia é que haja cooperação dos filhos, mas também constância e coerência dos pais, nunca quebrar os acordos e jamais fazer ameaças. E que aos poucos a tarefa realizada se torne reforçadora por si e suas consequências naturais (ex. a professora parabenizou quem fez a tarefa a tempo, conseguiu fazer a tempo de tirar dúvidas).

  • Disponibilizar tempo de qualidade para os filhos. O home office muitas vezes faz os pais trabalharem por mais tempo, e os filhos muitas vezes os chamam seja para ajudar nas aulas, ou porque querem contar algo. Reserve um tempo, mesmo que pouco, para ouvir seus filhos, de todas as idades, com toda atenção, sem celular nas mãos ou TV ligada.

  • Descubra novas maneiras de brincadeiras com as crianças para que possam liberar energia e imaginação. Existem vários canais na internet com ótimas ideias.

  • Sempre que possível, faça chamadas de vídeos para os parentes e amigos, ou ligação telefônica. E estimule os adolescentes a fazer o mesmo com os amigos, e observem se há dificuldades de socialização.

  • Separe um tempo para relaxar, descobrir técnicas simples de meditação que possa fazer com as crianças, como o mindfulness, que basicamente é estar totalmente presente em uma tarefa, como observar todas as características de uma fruta, ou conseguir descrever todos os passos ao tomar banho.

  • Tenha uma rotina de autocuidado! Pais e mães também precisam relaxar e estar bem para liderar uma família. Lembrem da analogia da máscara de oxigênio no avião: primeiro coloque a sua, depois ajude as outras pessoas a colocar as delas. O hábito demora alguns dias para ser estabelecido, e a constância dos primeiros dias é essencial. Comece reservando pelo menos 10 minutos por dia para fazer algo por você. Depois vá aumentando aos poucos.

Enfim, a família precisa traçar estratégias de forma conjunta para lidar e resolver os problemas que possam surgir no lar. Pais e mães devem fortalecer seus próprios repertórios de resiliência para conseguir ajudar os filhos a lidar com a crise. Mas lembrem-se, nesse momento de pandemia e isolamento social quase ninguém está bem, e pais e filhos estão dando o seu melhor! Não podemos idealizar uma família sem problemas em um contexto caótico.

Precisamos ser gentis, não julgar e entender que está difícil para todos. Mas se ainda assim, em algum momento lhes parecer que precisam de orientação, ou que há mais problemas do que conseguem resolver sozinhos, não se deve hesitar em procurar ajuda profissional, se possível.

 

Adriana Aparecida Pivetta

Psicóloga – Especialista em Terapia Comportamental

CRP 06/108736

 

Atendimento de Crianças e Adolescentes

Orientação de Pais

 

Referência

Fegert, J.M., Kehoe, L.A., Çuhadaroglu Çetin, F. et al. Next generation Europe: a recovery plan for children, adolescents and their families. Eur Child Adolesc Psychiatry (2021). https://doi.org/10.1007/s00787-021-01767-w

 

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