saúde mental

Por que devemos falar sobre saúde mental na infância?

Por que devemos falar sobre saúde mental na infância?

saúde mentalQuando falamos sobre Setembro Amarelo não é nas crianças que pensamos, em primeiro lugar, certo? Mesmo porque se trata de uma campanha de prevenção ao suicídio e, de fato, ele é raro na infância. Entretanto, pode acontecer. E precisamos estar atentos à saúde mental dos pequenos, pela prevenção ao suicídio, claro, mas também, por toda qualidade de vida da criança, do adolescente e do adulto que ela virá a ser.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 2002 e 2012, houve um aumento de 40% na taxa de suicídio entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos e de 33,5% entre a faixa etária de 15 a 19 anos.

A depressão é a doença mental que está mais relacionada à prática do suicídio. Dados de 2017 da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a depressão atinge cerca de 8% de crianças em todo o planeta. No Brasil, estima-se que cerca de 1% a 3% das crianças e adolescentes apresentem o transtorno. E quando falamos de transtornos mentais em geral, que abrange, além da depressão, também ansiedade, estresse, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros, estima-se que entre 7% a 20% da população infantil possa ser afetada no país.

A pandemia trouxe o isolamento social, as inseguranças quanto à saúde e economia e a mudança brusca de rotina. Fatores que trouxeram sofrimento às famílias e influenciaram negativamente a saúde mental de todos, inclusive das crianças e adolescentes. Neste ano, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apresentou uma pesquisa realizada com 7 mil crianças e adolescentes de todo o país. Os dados mostram que uma a cada quatro crianças e adolescentes apresentam ansiedade e depressão, em níveis com necessidade de tratamento com profissionais da saúde, durante a pandemia.

Segundo o coordenador da pesquisa, Guilherme Polanczyk, entre os adultos com algum transtorno mental, 48,4% deles apresentaram o transtorno até os 18 anos. Esse dado é muito importante, pois nos mostra que a saúde mental na infância e adolescência é fator que amplia muito a probabilidade de uma boa saúde mental na fase adulta. Polanczyk ainda afirma que uma relação familiar saudável ajuda a mitigar o desenvolvimento desses transtornos.

O que acontece na infância, não fica na infância. Ela é a base para o desenvolvimento do adolescente e do futuro adulto. É claro que diversos fatores estão envolvidos quando se fala de saúde mental, como as bases biológicas, genéticas e socioambientais. Mas podemos dizer que uma criança que tem seus sentimentos respeitados, é vista com empatia por seus cuidadores, e que é educada dentro de um lar coerente, com limites estabelecidos sem ferir sua dignidade, possui maiores chances de ter mais saúde mental e qualidade de vida hoje e no futuro, e prosperar dentro de suas próprias definições de sucesso, a partir dos valores que considerar importantes.

 

Sinais de alerta

A depressão e ansiedade se manifestam na infância de forma menos clara do que em adolescentes e adultos, pois muitas vezes a criança ainda não sabe nomear seus sentimentos e por que está se sentindo dessa forma. Às vezes é através de algum sintoma físico, como dor de estômago ou de barriga, dor de cabeça ou febre que a angústia se manifesta. Mas é preciso ficar atento se a criança também apresentar os seguintes sinais:

  • Irritabilidade frequente
  • Choro fácil
  • Desatenção excessiva
  • Queda no rendimento escolar
  • Dificuldade em se separar dos pais, como para ir à escola ou para dormir
  • Isolamento social
  • Falta de interesse por atividades que antes gostava de fazer
  • Alterações na alimentação e no sono
  • Queixas frequentes sobre cansaço
  • Falas autodepreciativas frequentes, como “sou burro” e “sou feio”

O conjunto de alguns desses sinais é indício de que é necessário procurar ajuda profissional. A tristeza por si só, que não perdura por muito tempo, é apenas um sentimento que deve ser identificado, acolhido e vivido pela criança, como pode acontecer após a perda de um animal de estimação ou de algum ente querido. Entretanto, se ela persistir tempo suficiente para começar a atrapalhar as atividades diárias da criança, aí a tristeza também se torna sinal de alerta para avaliação de sua saúde mental.

 

Causas

  • Dentre os fatores que podem desencadear transtornos mentais, como depressão e ansiedade em crianças, estão:
    Cobranças excessivas dos pais, da escola, dos colegas, da sociedade (mídias)
  • Excesso de atividades extracurriculares
  • Famílias com educação pautada na punição ou negligentes e/ou não coesas na transmissão de valores (“faça o que eu digo, não faça o que eu faço”)
  • Eventos traumáticos, como acidentes e abusos
  • Separação dos pais
  • Bullying
  • Luto
  • Violência física e/ou psicológica
  • Fatores hereditários

 

Tratamento

A primeira atitude dos pais/cuidadores ao perceberem alguma mudança significativa de comportamento nas crianças, e ainda mais se há alguma situação de risco, como as citadas acima, é encaminhar a criança para uma avaliação com o pediatra, que fará o encaminhamento, se for o caso, ou diretamente com um profissional de saúde mental, psicólogo ou psiquiatra que, se diagnosticado o transtorno, irão indicar o tratamento necessário, que pode incluir medicamentos ou não, dependendo da sua intensidade. A medicação, se necessária, se complementa com a psicoterapia, além da orientação de pais/cuidadores, para o manejo do ambiente familiar.

 

Prevenção

Dialogar e realmente ouvir as crianças não é uma tarefa fácil, especialmente quando não fomos ensinados a fazer isso e ainda mais em uma rotina corrida e cheia de obrigações, onde dar atenção a elas não deveria ser apenas mais um item da nossa lista de afazeres. É preciso o mínimo de conexão e empatia para que seja efetivo, e não é necessário muito tempo, desde que seja de qualidade. Uma dica: isso não se faz com um olho no celular e o outro na criança!

A infância é conhecida como uma fase de alegria e brincadeiras. E tendemos a achar que as crianças não têm maiores preocupações, que possam ser equivalentes às dos adultos, como as de ter boletos para pagar, por exemplo. Mas estamos equivocados ao não validar as preocupações, tristezas, protestos, irritações dos pequenos. Achando que é “bobagem”, “coisas de criança”, “é só uma fase, vai passar”, “passei por isso e não morri”. Ignorando esses sentimentos, ou minimizando-os, estamos dizendo aos pequenos que é errado se sentir daquele modo, e que eles devem esconder o que sentem. Mas, na verdade, não existe forma efetiva de evitar sentir, não é mesmo? Fingir que a criança não sofre não é o caminho para que ela desenvolva sua autorregulação emocional, condição muito relevante para uma boa saúde mental. Pelo contrário, devemos ouvir essa criança, nos conectar com ela para que possamos dar valor aos seus sentimentos, acreditando que está realmente sofrendo, ajudá-la a identificá-los e nomeá-los, e a partir daí saber o que fazer com eles, como acalmar os sintomas físicos que sente, pensar sobre o que gerou esse sentimento, o que pode fazer de diferente para se sentir melhor em outra ocasião semelhante.

Portanto, o respeito aos seus sentimentos é um importante pilar da saúde mental das crianças, assim como para qualquer ser humano: se sentir importante e digno, sem relações de opressão e desrespeito ou negligência. E antes que alguém fale que é preciso ser firme e rígido para que as crianças obedeçam, ou então elas farão tudo que quiserem e se tornaram “reizinhos” da casa, posso afirmar que é possível estabelecer limites de forma firme e respeitosa ao mesmo tempo. E desta forma, as crianças se sentem mais motivadas a cooperar e toda a família só tem a ganhar.

Os pais que apanharam na infância, e sentem que foram bem educados, receberam o melhor que seus pais tinham a lhe oferecer naquele momento: o que aprenderam e achavam ser o correto para mantê-los no bom caminho. Não havia estudos suficientes que lhes dissessem os possíveis prejuízos desse método e como fazer diferente. Provavelmente esses filhos, que são pais agora, e se sofreram na infância, podem não usar esse método, mas podem ficar em dúvida de como fazer diferente. Muitas vezes usando de outras formas de punição, tão prejudiciais emocionalmente quanto. Ou se sentem culpados a cada vez que usam de métodos agressivos para educar os filhos.

Muitos dos que falam que “apanharam, mas não morreram”, trazem angústias e limitações que talvez não existissem se sua educação tivesse sido mais respeitosa e menos autoritária. Hoje, as informações estão disponíveis em diversos canais, mas ainda muitos não têm acesso, o que ajuda a perpetuar o sofrimento dos mais vulneráveis socialmente.

Enfim, se há oportunidade, estudar para exercer a parentalidade de forma mais respeitosa e eficiente pode ajudar a melhorar a saúde mental das crianças, e consequentemente, dos adolescentes e adultos. É um benefício a longo prazo e que pode passar às próximas gerações, quando as crianças de hoje educarem suas próprias crianças.

Já pensou nisso?

 

Adriana Aparecida Pivetta (@adrianapivetta02)
Psicóloga – Especialista em Terapia Comportamental
CRP 06/108736

Atendimento de Crianças
Orientação de Pais

 

Leia também: O uso da máscara de proteção ajuda a causar acne?

 

Fontes consultadas

  • http://aliancapelainfancia.org.br/inspiracoes/o-setembro-amarelo-no-universo-da-infancia/
  • https://esbrasil.com.br/depressao-infantil/
  • https://www.camara.leg.br/noticias/774133-uma-a-cada-4-criancas-e-adolescentes-teve-sinais-de-ansiedade-e-depressao-na-pandemia-aponta-estudo/

#Be4You #SantaCruzDoRioPardo #ClinicaMultidisciplinar #CoworkingClinico #EspacoClinico #ClinicaMedica #ClinicaDeSaude #SetembroAmarelo #Psicologia #TerapiaComportamental #Criancas #Adolescentes

Olá!
Seja atendido pelo WhatsApp!